domingo, 17 de junho de 2018

As Sete Solenidades do Senhor

Levítico cap. 23 começa assim: “As solenidades do Senhor, que convocareis, serão santas convocações; estas são as Minhas solenidades”. Em seguida são listadas sete datas especiais que Israel deveria celebrar todo ano. Pode parecer só uma lista de festividades antigas, que não tem nada a nos ensinar — mas temos aqui um tesouro de ensino!

(Ouça uma série de pregações sobre este assunto clicando aqui)

A Bíblia contém três listas de sete coisas que são panoramas proféticos. Em Apocalipse 2 e 3, sete cartas apresentam um esboço profético da época da Igreja (mostrando a fraqueza dos servos de Deus). Em Mateus 13, sete comparações (as parábolas do Reino) dão um esboço da história do Reino dos Céus desde os dias do Senhor na Terra até o Dia do Juízo (mostrando a oposição satânica). Aqui, no começo da Bíblia, temos sete convocações: um esboço do plano de redenção do Calvário ao Milênio (mostrando a sequência cronológica dos planos de Deus). Falhas humanas ou oposição satânica não se veem aqui — esta é a Agenda Divina em toda a sua perfeição!

Quatro vezes nos primeiros quatro versículos de Levítico 23 encontramos uma palavra hebraica (moed) cujo significado literal é “datas agendadas”, ou “compromissos assumidos”. Aqui Deus apresenta as datas agendadas no calendário divino, revelando-nos em figura os sete passos que Ele Se comprometia a cumprir no plano de redenção. Ele faz isto no começo da Bíblia, logo que Seu povo foi redimido e congregado diante do Tabernáculo. O capítulo começa com uma menção do sábado (v. 3), e termina da mesma forma, com um sábado extra acrescentado à Festa dos Tabernáculos (v. 39). O descanso do Éden é visto no v. 3, o descanso eterno no v. 39, e entre estes dois sábados as sete solenidades prefiguram como Deus agirá para restaurar o descanso que o pecado comprometeu.

Pela riqueza dos detalhes associados a cada uma destas sete solenidades, pela grandeza dos acontecimentos que elas prefiguram, pela forma impressionante com que os detalhes prefigurados se encaixam nas solenidades que já se cumpriram, e principalmente por estarmos diante do calendário de Deus, esta parte das Escrituras merece muito mais atenção do que costuma receber.

Levítico 23 não contem uma descrição detalhada de todas as solenidades (a maioria delas será detalhada individualmente em outras partes da Bíblia), e não é o único trecho nas Escrituras que fala delas como um todo (Números caps. 28 e 29 falam sobre como celebrá-las, e Deuteronômio cap. 16 fala sobre onde celebrá-las). Mas este é o único lugar na Bíblia onde todas as sete solenidades são apresentadas sem exceção, com ênfase na ordem cronológica em que serão cumpridas por Deus (quando celebrá-las). E convém perguntar: por que em Levítico? E por que no cap. 23?

O livro de Levítico é o livro central do Pentateuco. Em Gênesis e Êxodo o povo é visto em relação ao Egito — descendo ao Egito em Gênesis, saindo de lá em Êxodo. Já em Números e Deuteronômio é destacada a sua relação com a Terra Prometida — com receio de entrar em Números, e sendo instruídos sobre como se comportar nela em Deuteronômio. Mas em Levítico o povo é visto em relação ao Tabernáculo, que representa a presença do próprio Deus. A expressão “Eu sou o Senhor” ocorre em Levítico quase o dobro das vezes (49) que ocorre nos outros quatro livros do Pentateuco juntos (27). Aqui não é Abraão que se destaca, nem Moisés, nem Calebe ou Josué, mas o Senhor mesmo.

Êxodo terminou com a glória do Senhor enchendo o Tabernáculo. Deus está entre eles — que privilégio! Sim — mas que responsabilidade! Para que Deus habite entre eles, algumas coisas precisam ser corrigidas. Os filhos de Israel precisarão se preocupar com a sua condição (eles são, por natureza, pecadores), suas circunstâncias (eles vivem num mundo contaminado), e seu comportamento (eles têm a tendência de seguir o seu próprio caminho, e profanar o nome do Senhor). Levítico trata destes três problemas consecutivamente. Nos primeiros dez capítulos lemos repetidamente sobre sacrifícios, altar, e pecado. Aprendemos nesta parte que um povo pecador não pode se aproximar de Deus a não ser através do altar e dos sacrifícios. Nos caps. 11 a 17, porém, a questão não é tanto o pecado que todo ser humano possui por natureza, mas a contaminação cerimonial a que o povo estava sujeito, e que atrapalharia seu relacionamento com um Deus puro. Nos últimos dez capítulos (18 a 27), lemos menos do pecado e da imundícia, mas a palavra “profanar”, que não foi usada nenhuma vez até este ponto do livro, é usada dezesseis vezes! Não é apresentada tanto a condição essencial do israelita (contaminado pelo pecado), nem a contaminação externa a que ele estava sujeito na sua vida cotidiana, mas o seu comportamento errado. Um povo que tem a tendência a se rebelar contra Deus precisa reconhecer a soberania dEle, andando nos Seus caminhos e seguindo os Seus juízos. Nestes últimos dez capítulos, Arão e a palavra “sacerdote” são menos frequentes do que no início do livro, mas a expressão “Eu sou o Senhor”, que só aparece duas vezes antes desta parte, ocorre quarenta e sete vezes!

Isto é, a lista das solenidades do Senhor se encontra na parte final do livro, onde um povo já perdoado (caps. 1-10) e purificado (caps. 11-17) é ensinado a ser santo. É a parte do livro que apresenta o procedimento esperado daqueles que, tendo tido acesso à presença de Deus na base dos sacrifícios (1ª parte) e tendo aprendido sobre as exigências elevadas da pureza de Deus (2ª parte), estão procurando viver à luz da verdade preciosa de que são propriedade de Deus.

Esta parte do livro se divide em quatro partes menores, cada uma contendo apenas uma vez (19:36, 22:33, 25:38, 26:13) a expressão “Eu sou o Senhor que vos tirei da terra do Egito” :

  • Caps. 18 a 20 — O Senhor tem prioridade nas casas (lemos principalmente sobre a vida familiar do povo de Israel);
  • Caps. 21 e 22 — O Senhor tem prioridade na congregação (Deus fala aos sacerdotes sobre como deveriam representar a congregação diante do Senhor);
  • Caps. 23 a 25 — O Senhor tem prioridade no calendário (Deus fala de dias, meses e anos);
  • Caps. 26 e 27 — O Senhor tem prioridade na consagração (bênçãos e maldições, votos e coisas consagradas).

Portanto, as solenidades fazem parte das instruções de um Deus soberano a Seu povo redimido, onde Ele revela os Seus compromissos eternos em relação a eles, para que eles se comportem como convém àqueles que pertencem a Deus.

As sete solenidades se dividem em dois grupos, um com quatro e outro com três elementos (como é normal em grupos de “sete” na Bíblia). As primeiras quatro solenidades falam de coisas que já foram cumpridas em relação a Israel, as últimas três falam de acontecimentos futuros. Duas duravam uma semana (representando condições que caracterizam um período), as outras cinco eram de um dia apenas (indicando um acontecimento nos planos de Deus). As duas solenidades com duração maior do que um dia vinham imediatamente após as duas solenidades que falam mais diretamente da morte de Cristo (a semana dos Asmos, com sua ênfase na santificação, seguia a Páscoa, que fala da morte de Cristo no Calvário, e a semana dos Tabernáculos, com sua ênfase no descanso e alegria, seguia o Dia da Expiação, que fala de Israel apreciando plenamente a morte de Cristo). É o valor da morte de Cristo que produz santidade, e é a apreciação da morte de Cristo que produz descanso.

Como toda a Bíblia, estas sete solenidades tem como tema principal a glória de Deus revelada em Seu Filho, nosso Senhor Jesus Cristo.


Este é um esboço extremamente resumido deste assunto tão precioso. Dentro de algumas semanas, se Deus permitir, publicarei algo bem mais detalhado. O arquivo pdf anexo contem o texto acima, bem como uma tabela das Sete Solenidades de Levítico 23. Para imprimi-lo, use uma folha A4 em modo “paisagem” (isto é, a folha deitada).

Download Tabela






© W. J. Watterson

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