- Primeiro, porque a criação de filhos no temor do Senhor é, possivelmente, a tarefa mais árdua e complexa que existe. Tentei criar três filhas, e reconheço que foi um processo recheado de erros e falhas. Cada criança tem a sua personalidade e seu temperamento, e não podemos tratá-las como robôs autômatos. A teoria sobre criação de filhos (para quem aceita a autoridade da Bíblia) é simples; mas aplicar esta teoria consistentemente, dia após dia, ano após ano, nas mais diversas situações e às mais variadas personalidades, é quase impossível de ser feito perfeitamente. Como qualquer pai ou mãe honesto, tenho que confessar: eu falhei na crianças das minhas filhas, e aprendi que esta é uma tarefa muito, muito difícil.
- Não só a tarefa de criar filhos é extremamente difícil, mas é também um assunto extremamente melindroso. Pessoas que aceitam serem corrigidos em outras áreas não suportam uma insinuação de que seus filhos estão sendo malcriados. Pais e mães que, antes de serem pais e mães, percebiam os menores defeitos nos filhos dos outros, tornam-se cegos aos erros grosseiros dos seus próprios filhos. Amamos tanto nossos filhos que, se alguém sugere que eles estão se comportando de forma errada, imediatamente começamos a defendê-los.
Reconheço minhas falhas como pai, e tenho consciência que tentar apontar algumas destas falhas pode irritar muitos pais e mães. Mas as recentes mudanças na sociedade tem se infiltrado no meio do povo de Deus, e estamos perdendo a noção da solenidade da presença de Deus nos ajuntamentos do Seu povo. Preocupado com isso, vou me arriscar a escrever, orando para que Deus permita que aqueles que se sentirem ofendidos me perdoem pela minha presunção.
Um aspecto da maneira como criamos nossos filhos e filhas é o comportamento que esperamos deles nas reuniões das igrejas locais. Uma reunião deve ser realizada num ambiente de ordem e solenidade, devido à presença do Senhor no nosso meio (veja I Coríntios cap. 14), mas não é natural que uma criança com poucos meses de vida se comporte com a reverência que a ocasião exige. Diante desta situação, o que devemos fazer? Há três sugestões:
- Não levar crianças pequenas às reuniões (pai e mãe podem se revezar no cuidado com os filhos);
- Não se preocupar com o comportamento das crianças nas reuniões (afinal, são apenas crianças);
- Levar as crianças às reuniões, mas exigir que elas se comportem como a ocasião exige.
Quanto à primeira sugestão, ela é largamente praticada em outros países, e entendo a motivação por trás dela. As reuniões transcorrem sem barulho, com reverência e solenidade, e este ambiente contagia a todos — a reverência geral produz reverência no indivíduo. Mas o custo espiritual para os pais, para as crianças, e para a igreja toda, é muito grande. Um casal poderá passar anos e anos sem ir às reuniões juntos, e tanto o pai quanto a mãe perderá muitas reuniões. As crianças passam seus primeiros quatro ou cinco anos sem o contato tão saudável com a igreja nas reuniões, sem a experiência de um ajuntamento solene na presença de Deus. E a igreja não pode contar com a participação plena dos pais nos primeiros anos de vida dos filhos (se um casal gera três filhos com intervalos de dois ou três anos, podem ficar mais de uma década nesta situação). Participei de muitas reuniões assim, e apesar de apreciar muito a reverência manifestada, não creio que seja o ideal.
A segunda sugestão (que corresponde à prática mais comum aqui no Brasil nos últimos anos) tem como principal vantagem promover a integração da família toda (pai, mãe e filhos) com a igreja local desde a mais tenra idade da criança. As reuniões da igreja farão parte das primeiras lembranças da criança quando crescer, e isto é ótimo. Mas o custo espiritual é enorme. Uma criança barulhenta pode tirar praticamente todo o proveito espiritual de uma reunião. Entre os salvos, alguns ficarão olhando e rindo das peripécias da criança, enquanto quem quer prestar atenção ficará irritado com as distrações — e todos irão ter o seu proveito espiritual prejudicado. Pior ainda é imaginar a situação de um incrédulo que esteja presente na reunião. Se lembrarmos que o destino eterno dele está em jogo, que trágico seria se Satanás conseguisse distrai-lo por causa do meu filho(a); quão horrendo se ele continuasse caminhando ao inferno por causa da complacência dos pais para com uma criança inocente!
Creio que a terceira sugestão é o caminho que devemos seguir. A reunião de uma igreja local é preciosa demais para que pais fiquem em casa com seus filhos, e é solene demais para que pais permitam que seus filhos perturbem a reunião. A única solução que resta é trazer os filhos às reuniões desde as primeiras semanas de vida, mas educá-los para que se comportem nas reuniões.
O mais difícil nesta questão é concordar sobre o que é um comportamento aceitável duma criança numa reunião. Quero sugerir algumas coisas, não como regras ou leis, mas como sugestões de quem já errou muito, e deseja que uma nova geração erre menos do que eu errei:
- Os primeiros meses de vida são os mais difíceis. Nesta fase, é normal a criança chorar quando tiver fome ou algum desconforto (cólica, fralda suja, etc.). A mãe pode sair com a criança sempre que surgir uma situação destas, resolver a situação, e voltar o mais rápido possível. Todos os demais devem entender que isto é normal naquela fase, e procurar não aumentar o problema olhando pra trás toda vez que a criança chora, etc.
- Depois de alguns meses, porém, a inteligência da criança começa a se manifestar, e ela já tem condições de ser ensinada que deve permanecer em silêncio nas reuniões. Os meios que os pais usarão para efetuar isto podem variar dependendo dos pais e da criança, mas já vivi o suficiente para poder afirmar que qualquer criança consegue aprender a ficar quieta numa reunião antes mesmo de aprender a andar e falar. “Você não conhece o meu filho!” alguém diz. É verdade, mas já vi crianças hiperativas que, na hora da reunião, sabem se comportar. É difícil de ser conseguido, mas é possível.
- Obviamente, isto começa em casa; uma criança que faz a sua própria vontade em casa não vai fazer a vontade dos pais na hora da reunião! O comportamento que se espera da criança em casa é bem diferente do que é permitido na reunião, mas em qualquer ambiente haverá limites que não podem ser ultrapassados. Se os pais não insistem, em casa, para que os limites da casa não sejam ultrapassados, não é na hora da reunião que vão conseguir que a criança os obedeça.
- Obviamente, também, não é algo que se consegue do dia para a noite, ou sem esforço; vai exigir muita paciência e perseverança dos pais. Não adianta nada deixar a criança gritar por meia hora, depois levá-la para fora e dar uma surra; uma leve repreensão, toda vez que a criança tenta fazer algum barulho, é muito mais eficaz. Passar a reunião toda do lado de fora distraindo a criança também não resolve a situação. O importante é não desanimar nem desistir.
Eu sei que crianças não são adultos. Sei também que ninguém consegue criar seu filho de forma perfeita. Se permitirmos que crianças frequentem as reuniões das igrejas, é inevitável que haverá interrupções devido ao mau comportamento das crianças. O que pretendo com este alerta não é envergonhar pais e mães cujas crianças já atrapalharam alguma reunião (pois todos nós somos culpados disto), muito menos defender uma utopia. Apenas creio que devemos nos esforçar ao máximo para que as interrupções sejam diminuídas o máximo possível.
Quero sugerir que pais “de primeira viagem” peçam conselhos e orientação dos mais experientes, e que todos os demais tenham paciência com os pais enquanto educam seus filhos. Vocês que são pais de crianças pequenas: tenha certeza que eu entendo o quão difícil é a tarefa que vocês tem, e oro para que vocês sejam zelosos neste serviço. A vocês que não são pais de crianças pequenas: tenha paciência, e não torne o trabalho dos pais ainda mais difícil do que já é.
A maneira como o mundo cria seus filhos não é aceitável para o cristão. Crianças pequenas conseguem aprender a ficar quietas nas reuniões. Elas tem inteligência suficiente para aprender, e com certeza não ficarão traumatizadas se forem ensinadas a ficarem quietas duas ou três horas por semana.
Se alguém acha que exagerei, pode me corrigir nos comentários. Se alguém tiver alguma experiência pessoal para ajudar neste sentido, tenha liberdade de compartilhar.
“Educa a criança no caminho em que deve andar; e até quando envelhecer não se desviará dele … A estultícia está ligada ao coração da criança, mas a vara da correção a afugentará dela … Não retires a disciplina da criança; pois se a fustigares com a vara, nem por isso morrerá … A vara e a repreensão dão sabedoria, mas a criança entregue a si mesma, envergonha a sua mãe.” (Provérbios 22:6, 15; 23:13; 29:15).
© W. J. Watterson
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